Reticência
Talvez fosse a sétima ou oitava vez que ela gritava naquela noite, mesmo sabendo que ninguém podia ouvir. Ela sentia a ponta da faca riscando seu braço vagarosamente, enquanto o sangue escorria e manchava o piso do meu quarto. Droga, vou ter que lavar essa merda de novo. Estávamos a quilômetros de distância da civilização urbana, essa era minha 4ª vítima nessa semana. Às vezes me pergunto porque não as mato logo. Talvez seja pelo prazer de ver seu sofrimento, ouvir seus gritos. São como música para os meus ouvidos. Curiosa a estupidez humana, mesmo sabendo que não podem ser ouvidas, elas gritam, choram, e imploram por suas vidas. Porém, algo que foi começado, deve ser terminado. Ela está cansada, sem forças para gritar novamente, ouço-a soluçando, sabendo do pouco tempo que lhe resta. Liberto-a das correntes, e digo que está livre. Ela não se move, não tem forças para isso. Começo a gargalhar então, e pergunto-a, onde estão seus gritos, onde está a sua vontade de viver, ela soluça cada vez mais alto, nesse momento seguro-a pelos cabelos para que olhe em meu rosto, e faço perguntas novamente. Por que imploraste por tua vida tanto, e agora que tem a chance de fugir, deixa-se sucumbir à fraqueza. Humanos fracos, não dão valor à vida que têm, não possuem a verdadeira vontade de viver. Por isso presenteio à todos com o que vocês realmente querem – A morte. Seus soluços então cessam, sua boca se abre, como se num último esforço de soltar um grito, porém é apenas um grito mudo, pois sua cabeça agora rola sobre meu tapete.
Publicado originalmente em dezembro de 2007 sob pseudônimo Samuel West